A Xylella fastidiosa (Xf) é uma fitobactéria de quarentena, letal, com cerca de 350 espécies hospedeiras. É um desafio com 30 anos na América, para os produtores de videira e de citrinos. O primeiro surto na Europa foi relatado em outubro de 2013, no sul da Itália, na região de Puglia, área de Salento. A estirpe CoDiRO (Xf subsp. pauca) foi responsável pela doença denominada - Complesso del disseccamento rapido dell'Olivo (CoDiRO). Mais de 8000ha de oliveiras foram destruídos, e quase 21000ha estão em quarentena, o que equivale a cerca de 53M euros de danos. O recente alerta da European Food Safety Authority (EFSA, 2015), confirmou que a disseminação de Xf está longe de estar controlada. A EFSA refere que, é agora "muito provável" que a Xf se dissemine para outros países europeus,sendo uma " ameaça muito séria " para a agricultura europeia, já que não há registo de erradicação bem-sucedida. Portugal tem uma posição geográfica muito particular na Europa, e no mundo do comércio global. As nossas condições climáticas são caracterizadas como áreas de risco para o estabelecimento de Xf. Vinha, oliveiras, citrinos, sobreiros, amendoeiras e ameixeiras, são culturas de grande importância económica para a agricultura portuguesa. O padrão de disseminação Xf, e a presença de inseto Philaneus spumarius em França, Espanha e Portugal, leva-nos a prever que as perdas de produção e outros danos, se irão refletir num grande choque na economia Europeia, o que exigirá medidas de controlo extremamente dispendiosas.
As cultivares de oliveira Galega vulgar, Cordovil de Serpa, Cobrançosa e Arbequina, uma cultivar espanhola amplamente utilizada em Portugal, são economicamente importantes, já que representam 80 % do total de olivais implantados. Neste momento, em Portugal, não há nenhuma pesquisa no que toca à sua suscetibilidade à Xf, que apoie o desenho de planos de contingência e erradicação adaptados à nossa realidade. No âmbito do desenvolvimento de estratégias de contenção, será crucial testar e rastrear as variedades de oliveira Xf-suscetíveis e/ou genótipos tolerantes. Frente a esta ameaça, precisamos de ter abordagens diferentes para sermos capazes de ultrapassar as nossas barreiras internas, e pensar “out of the box”. Propomos um projeto de pesquisa que não é uma soma de métodos, mas uma fusão de mentes; queremos abordar esta questão de uma nova perspectiva, para sermos capazes de ver o que está além do nosso conhecimento atual.
"A natureza não faz nada em vão " e " a natureza é simples" (Newton Principia, 1729, 320) é a nossa raiz de pensamento. Para desvendar os fatores que conduzem a uma infecção bem sucedida de Xf, temos de "ser" o inseto, a Xf, e a planta, de "sentir" como eles, de acordo com suas necessidades. A frase "nós somos o que comemos" representa a base de pesquisa do núcleo deste projeto. Vamos estudar o campo de batalha do hospedeiro e da Xf, o fluido xilémico, e suas interações com o vector-ambiente-Xf-hospedeiro. O nosso projeto propõe-se identificar os principais fatores que nos possam permitir “manipular” o fluido xilémico, a fim de o transformar numa "má refeição" para os insetos-vetores, e também para o condicionar o crescimento da Xf.