Área de Distribuição

O género Castanea tem 24 cromossomas, pertence à família Fagaceae (Camus, 1929) e inclui 12 espécies.

O Castanheiro chinês (C. molllissima Blume), castanheiro Henry (C. henryi Rehd. & Wils.) e o castanheiro japonês (C. crenata Sieb. e Zucc.) ocorrem na zona Leste da Ásia.

O castanheiro Americano (C. dentata Borkhausen) é nativo na zona Leste da América do Norte.

C. sativa Mill, o castanheiro europeu, está presente em todos os países da Bacia Mediterrânica.

A espécie (C. henryi (Skan) Redher and Wilson) encontra-se em áreas limitadas da China, e a espécie C. pumila Mill. em algumas zonas da América.

A divergência genética verificada entre as cinco principais espécies de castanheiro, de Oriente para Ocidente, foi estudada por Lang et al., (2007) recorrendo a marcadores moleculares. Verificaram estes autores que as três espécies Asiáticas ficaram incluídas no mesmo agrupamento e a evolução do género Castanea ocorreu de Leste para Oeste, da China, para a Europa e finalmente para América do Norte, o que poderá explicar a maior sensibilidade de ambas as espécies, Europeia e Americana, às principais doenças.

 distribuicao

Distribuição do género Castanea e hipótese de migração de Oeste para Leste, baseado em informação obtidas a partir de estudos efectuados com DNA cloroplastidial. (Lang et al., 2007)

 

Origem e domesticação de variedades de castanheiro

A primeira evidência da cultura de castanheiro data do terceiro milénio antes de Cristo, na zona Leste da Europa (Península da Anatólia, Nordeste da Grécia e Sudeste da Bulgária). A partir dessas zonas, primeiro os Gregos e depois os Romanos, difundiram a cultura para o ocidente (Conedera et al., 2004), sendo que na idade média a cultura do castanheiro era utilizado para a produção de madeira e fruto e a castanha constituía a base de alimentação das populações rurais dos países Mediterrânico e sul da Europa Central.

Trata-se de uma espécie com grande importância económica, por se tratar de uma folhosa de uso múltiplo, que combina a aptidão florestal e frutícola, possuindo uma larga tradição de cultura na Europa, principalmente na região Mediterrânica. Ocupa atualmente toda a orla norte do Mediterrâneo, de Portugal até à Turquia. A espécie que existe em Portugal é também a que predomina na Europa, Castanea sativa. Há conhecimentos e sinais de existir no território português há já muitos séculos, pelo que é considerada como uma espécie indígena. Contudo, há quem pense que terá sido introduzida na Península ibérica, provavelmente, durante a época dos romanos.

O estudo da estrutura genética efetuado para os povoamentos de castanheiro, com diferentes marcadores genéticos e diferentes abordagens analíticas, revelou um nível significativo de variação genética para todas as espécies do género Castanea, identificando cinco pools genéticos na Europa, uma grande variabilidade na Península Ibérica e um pool genético único na Grécia (Aravanopoulos et al. 2005, Pereira Lorenzo et al. 2010). As regiões Atlânticas de França, Espanha e Portugal são consideradas como das mais importantes áreas de origem de espécies nativas de Castanea sativa Mill. (Conedera et al. 2004; Krebs et al. 2004).

O estudo recentemente realizado para as variedades de castanheiro da Península Ibérica, com marcadores moleculares (microssatélites nucleares), revelou que a origem das variedades atuais e o processo de diversificação, são uma combinação de propagação clonal, hibridação e mutações. A propagação clonal, resultante da prática comum de enxertia, utilizada para a produção para fruto, contribui com 33% para a estabilidade das variedades, sendo que as mutações e as hibridações entre variedades, os processos que mais contribuem para a sua diversificação, podendo explicar a grande variabilidade genética encontrada nas variedades de castanheiro da Península Ibérica, sendo a região de Trás-os-Montes, a que revela maior diversidade de genótipos (Pereira-Lorenzo et al., 2010). Apesar do mapa filogenético do castanheiro ainda não estar completamente compreendido, a maior similaridade genética, observada nos castanheiros da zona ocidental da Península da Anatólia, com as populações francesas e italianas, sugere que provavelmente o castanheiro tenha sido introduzido pelos gregos em Itália, da mesma forma que foi introduzida a vinha (Villani, 1999).

 

Área de distribuição do castanheiro Europeu

O castanheiro Europeu cobre uma área total de 2.53 milhões de hectares, dos quais, dois milhões correspondem a florestas em que é a espécie dominante, sendo a restante área de 0.53 milhões, ocupada por povoamentos para produção de fruto (20.9% da área total de castanheiro). A produção de fruto diminuiu consideravelmente na Europa no século XX para 200,000 Toneladas (com uma redução de cerca de 300 M€). Este declínio deveu-se principalmente a doenças e a mudanças verificadas na estrutura da sociedade (Conedera et al. 2004). Em Portugal a área e castanheiro reduziu-se de 80.000 hectares, antes da introdução da doença da tinta em 1838 para os 34.000 hectares atuais de soutos e 42.000 hectares total incluindo as populações para madeira.

O desenvolvimento do mercado da castanha, verificado nas últimas décadas, confirma o potencial deste recurso, tanto para a produção de produtos tradicionais como de novos produtos relacionados com alimentos orgânicos e naturais, permitindo pensar num futuro otimista para a cultura de castanheiro Europeu, desde que seja colmatada a falta de novo material vegetal com resistência melhorada para as principais doenças, principalmente a doença da tinta. Esta é uma espécie que possui um bom suporte económico para as regiões produtoras, nomeadamente para as regiões montanhosas mediterrânicas, de escassos recursos económicos. O castanheiro é uma das espécies incluídas no Programa EUFORGEN (European Forest Genetic Resources Programme) que tem como objetivo, assegurar a conservação efetiva e a utilização sustentada dos recursos genéticos florestais na Europa.

O castanheiro Europeu (Castanea sativa Mill.), é uma espécie ambiental e economicamente importante na Europa, pela produção de madeira, fruto e proteção da paisagem. Perto do fim do século, verificou-se um aumento acentuado na procura do castanheiro, facto que conduziu ao triplicar da área de plantação e à recuperação de novos soutos. No entanto, a doença da tinta, provocada por agentes patogénicos do género Phytophthora spp, referenciada pela primeira vez em Portugal em 1838, e a doença do cancro (Cryphonectria parasitica (Murrill) M.E.Barr.) introduzido na Europa, a partir dos Estados Unidos, em 1938, sendo responsável pela quase total destruição das florestas e pomares de castanheiro nos Estados Unidos (Bhiragi et al., 1946), representam ainda hoje as maiores ameaças para a espécie. Na Europa o cancro não foi tão devastador com nos Estados Unidos, devido à presença de estirpes hipovirulentes do fungo que têm contribuído para o seu controle biológico.

Na Europa Castanea sativa encontra-se habitualmente entre os 400 e 1,000 metros de altitude, dependendo da latitude. As altitudes mais baixas são recomendadas para as latitudes mais elevadas e vice-versa (Costa, 2005). O rebentamento precoce dos híbridos (meio de Março) restringe a sua utilização a altitudes menores do que 500 metros, e em zonas com geadas primaveris. Necessita de uma precipitação mínima de 800 mm, sendo as plantas desta espécie moderadamente termofílicas e bem adaptadas a ecossistemas com uma temperatura média anual de 8ºC a 15ºC e com temperaturas médias durante 6 meses acima de 10ºC (Pereira-Lorenzo et al. 2012). O castanheiro caracteriza-se por ser uma espécie mesófila com algumas limitações a altas temperaturas. Não se dá bem em solos ricos em Cálcio, pH baixo e com má drenagem. Vegeta normalmente em solos pobres em zonas de encosta mas também em solos vulcânicos (Sicília, Canárias, Madeira e Açores). Solos profundos e raízes bem desenvolvidas são importantes para possibilitar a árvore manter o potencial hídrico nos meses mais quentes (de Julho a Setembro) (Costa et al., 2005). O castanheiro é ainda uma espécie com melhor adaptação a encostas com menor exposição solar, como são as expostas a norte do que as expostas a sul, onde se dá mal (Gomes-Laranjo, 2007).

 

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