Sobre o Projeto
O quadro estratégico FIGHT-TWO (PTDC/CVT-CVT/29062/2017-PT2020) é o desenvolvimento e produção de uma vacina oral e segura contra RHDV2 para o coelho-bravo.
Esta vacina edível será distribuída no campo como isco ou em ração seca e tem o potencial de proteger uma ampla proporção das populações silvestres de coelho-bravo, crucial para reduzir a transmissão do vírus e controlar a infeção, ultrapassando a necessidade de captura e manipulação dos animais.
Esta nova vacina será desenvolvida com recurso a biotecnologia sendo baseada em partículas de tipo viral (VLPs) da maior proteína estrutural (da cápside) de RHDV2, a VP60. As VP60-VLPs são estruturas de proteínas (“cascas ôcas”) que imitam a estrutura geral dos viriões nativos mas não contêm material genético (RNA) no seu interior, embora permitam induzir uma resposta imune protetora quando administradas por via parenteral ou oral. Esta vacina recombinante será produzida em sistema de vetores de expressão de células de inseto-baculovírus (IC-BEVS) e atualizada de acordo com a evolução do vírus (sistema aberto).
A parceria do projeto inclui o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), laboratório de referência para doenças dos animais, duas Universidades Portuguesas de Veterinária, nomeadamente a Universidade de Évora (UÉ) e a Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa (FMV) e o Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (IBET), um instituto privado com vasta experiência no campo da produção de vacinas.
O projeto FIGHT-TWO permitirá prosseguir com uma das 12 medidas especificadas num Plano de Ação para o Controlo da Doença Hemorrágica Viral do Coelho (Despacho 4757/17 de 31 de maio, Ministério da Agricultura), apoiando políticas de gestão mais generalistas que alavancam a recuperação das densidades populacionais de coelho-bravo, o controlo da DHV, a recuperação dos ecossistemas onde o coelho é essencial e a reativação da caça em Portugal.´
O projeto FIGHT-TWO, referência PTDC/CVT-CVT/29062/2017-PT2020, é financiando pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), a agência pública nacional de apoio à investigação em ciência, tecnologia e inovação, em todas as áreas do conhecimento, tutelada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
A importância do coelho-bravo
O coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) é uma espécie nativa da Península Ibérica que pertence ao género Oryctolagus, família Leporidae e ordem Lagomorpha. São reconhecidas duas subespécies, O. cuniculus algirus, restrita ao sudoeste da Península Ibérica, norte da África e ilhas Atlânticas, e O. cuniculus cuniculus, que habita a parte nordeste da Península Ibérica e se encontra difundida nas outras localizações geográficas onde a espécie ocorre. A subespécie O. c. algirus adquire uma importância especial na problemática da preservação do coelho-bravo, dada sua distribuição geográfica restrita e o seu frágil estatuto de conservação, recentemente revisto para "Ameaçado" (“Endangered”) pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).
A Doença Hemorrágica Viral (DHV)
A doença hemorrágica do coelho (DHV) é uma infeção viral sistémica altamente contagiosa e geralmente letal do coelho Europeu (O. cuniculus). A DHV integra a lista de doenças de notificação obrigatória da OIE. Atualmente, a condição é causada pelo vírus da doença hemorrágica do coelho de tipo 2 (RHDV2), um pequeno vírus de RNA de evolução rápida pertencente à família Caliciviridae, que emergiu na França em 2010. O RHDV2 substituiu os genogrupos (G1-G6) RHDV que circulavam anteriormente em todas as localizações geográficas onde tem sido reportado. Este vírus tem tido um grande impacto na conservação das populações depauparedas de coelho-bravo na Península Ibérica, afetando diretamente várias espécies ameaçadas que dependem do coelho para sua sobrevivência, nomeadamente o lince Ibérico (Lynx pardinus) (IUCN: "em perigo") e a águia imperial ibérica (Aquila adalberti) (IUCN: "vulnerável").
Em Portugal, o RHDV2 foi detetado pela primeira vez em 2012 e encontra-se atualmente amplamente distribuído em todo o território nacional, incluindo os arquipélagos dos Açores e da Madeira.
Vacinas atualmente disponíveis
As vacinas comerciais contra o RHDV2 disponíveis até o momento no mercado são inativadas, obtidas a partir de extratos de fígado de animais infetados e a sua via de administração é geralmente subcutânea, exigindo a manipulação dos animais. Além dos riscos associados à inativação incompleta do vírus e à liberação inadvertida de vírus infecioso, estas vacinas não são adequadas para o coelho-bravo, exigindo a captura dos animais para a sua inoculação. A imunidade que induzem é de curta duração e, portanto, a proteção é transitória. As vacinas comerciais contra o vírus clássico, RHDV, a maioria também inativadas, mostraram-se ineficazes em conferir proteção cruzada contra o RHDV2.
O projeto FIGHT-TWO
O quadro estratégico FIGHT-TWO é o desenvolvimento e produção de uma nova vacina edível/comestível contra RHDV2. Esta vacina segura (“pathogen-free”) baseada em partículas de tipo viral (VLPs) da VP60 (maior proteína da cápside viral) será distribuída no campo na forma de isco ou em ração seca. Este tipo de imunização não invasiva tem o potencial de proteger uma ampla proporção da população, crucial para interromper a transmissão do vírus e controlar a infeção, ultrapassando a necessidade de captura e manipulação dos animais.
Esta vacina recombinante será produzida usando o sistema de vetor de expressão de células de inseto-baculovírus (IC-BEVS) e atualizada de acordo com a evolução do RHDV2 num sistema aberto.
Relação com os projetos +Coelho
O FIGHT-TWO permitirá operacionalizar uma das 12 medidas especificadas no Plano de Ação para o Controle da Doença Viral Hemorrágica do Coelho em Coelhos (Despacho 4757/17 de 31 de maio). A obtenção desta vacina será crucial para apoiar políticas mais generalistas de maneio do coelho-bravo visando a recuperação das densidades populacionais e o controlo da doença, a recuperação dos ecossistemas onde o coelho é a pedra basilar e a reativação das atividades da caça em Portugal.