Microplásticos na Agricultura
Numa agricultura moderna, os plásticos fornecem muitos serviços como as embalagens, recipientes, túneis, tubagem de rega, cobertura de estufas, cobertura do solo, redes de proteção, fios, revestimento de fertilizantes de libertação lenta e sementes.

Numa agricultura moderna, os plásticos fornecem muitos serviços como as embalagens, recipientes, túneis, tubagem de rega, cobertura de estufas, cobertura do solo, redes de proteção, fios, revestimento de fertilizantes de libertação lenta e sementes. A cobertura do solo é usada em hortifruticultura, na linha de plantação, para reduzir a competição da cultura principal com as infestantes, aumentar a eficiência do uso da água e dos nutrientes pela cultura principal, aumentar a temperatura do solo, proteção contra doenças e pragas, e aumentar o rendimento da cultura.
Os plásticos usados na agricultura, com origem no petróleo (plásticos convencionais), são derivados de diferentes tipos de polímeros, variando na sua composição química. Os dois principais polímeros constituintes dos plásticos convencionais e utilizados na agricultura europeia são o polietileno (PE) e o polipropileno (PP), cuja duração no solo é geralmente de uma a duas épocas culturais. O PE é usado como polietileno de baixa densidade na cobertura do solo, enquanto o PP, mais rijo e resistente ao calor, é especialmente utilizado na tubagem de rega e em recipientes. Tanto o PE quanto o PP são muito resistentes, mas não são biodegradáveis no solo.
Os plásticos de cobertura do solo podem ser transparentes ou coloridos, contendo aditivos, numa concentração média de 4%, onde cerca de metade são plastificantes tais como os ftalatos, e os corantes (contaminantes como os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos-PAHs e bipefenils policlorados-PCBs). Estes aditivos permitem controlar a elasticidade, cor, resistência mecânica e degradabilidade dos plásticos. Tanto os aditivos como os contaminantes podem ser de origem orgânica e inorgânica, sendo determinados pelos métodos analíticos usuais.
O destino destes polímeros, quando libertados no solo durante a fragmentação por UV e mecânica, e degradação (microbiana), é incerto, podendo resultar numa grande quantidade de resíduos no solo (macroplásticos>25 mm), mesoplásticos (5–25 mm), microplásticos (partículas grandes 1-5 mm), microplásticos secundárions (1 mm-1 µm), e nanoplásticos (partículas<1 µm) devido ao elevado peso molecular e propriedades hidrofóbicas. Os microplásticos (MPs) são misturas heterogêneas de diferentes materiais compartilhados, denominados fragmentos, (micro)fibras, esferóides, grânulos, pellets, flocos, contas. Os microplásticos são divididos em MPs primários e secundários. Os MP primários são plásticos originalmente fabricados num tamanho específico, formulação específica e adicionado a produtos; os MPs secundários resultam da fragmentação e degradação dos maiores resíduos plásticos.
Os métodos para determinar MPs incluem três etapas:
i) Extração e degradação de matéria orgânica total;
ii) Deteção e quantificação (enumeração);
iii) Caracterização do plástico.
Para a caracterização e identificação do tipo de plástico são utilizados os métodos de Espectrometria de Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR) e Espectrometria Raman. Outra técnica, mais recente, para obtenção de informação sobre a estrutura do plástico, é a pirólise-cromatografia gasosa/espectrometria de massa (GC/MS).
Na literatura, o teor de MPs é expresso em diferentes unidades (ex., número de partículas/organismo, número de partículas/g de peso fresco), portanto nem sempre é possível comparar os resultados.
Se os resíduos plásticos não forem adequadamente geridos podem permanecer no solo expostos ao sol, sofrendo degradação física e arrastamento pela água e vento, acumulando-se no solo, rios, oceanos, ou ingeridos pelos organismos. Daqui resulta que os plásticos convencionais causam impactes ambientais, negativos, significativos.
A pesquisa de novos materiais para a cobertura do solo, derivados de polímeros certificados como biodegradáveis, e a sua introdução competitiva no mercado, pode ser uma solução promissora para reduzir a pegada de plástico na agricultura. Estes novos materiais são designados por “filmes”, em vez de “plásticos”. Os filmes são considerados “alternativas verdes” ao PE, porque são parcialmente produzidos com matéria-prima renovável, frequentemente de origem vegetal, como o amido (milho), a celulose, proteínas, como o glúten de trigo, o cardo. No âmbito do presente projeto estuda-se a viabilidade de sub-produtos da indústria de mirtilos como biofilme a utilizar na cobertura do solo.
Para um plástico ser considerado biodegradável no solo em condições reais de campo não deve ocorrer apenas a sua desintegração física, mas segundo a Norma CEN EN 17033 deve também sofrer uma biodegradação superior a 90% do material, em 2 anos, por ação microbiana no solo. Durante o processo de biodegradação no solo, o filme é decomposto em CO2 ou CH4, H2O, biomassa microbiana e compostos inorgânicos, não restando resíduos no solo. Mas este material deve ser suficientemente resistente para suportar todo o ciclo cultura.