O castanheiro europeu

O castanheiro europeu (Castanea sativa Mill) pertence à família das Fagáceas, a mesma família a que pertencem os carvalhos, e ao género Castanea. Pode atingir 25 a 30 metros de altura, possui copa ampla, tronco revestido por casca, que vai mudando de cor e de textura com a idade, sendo olivácea e lisa até aos 15-20 anos, passando depois a castanha escura e fendida longitudinalmente. As folhas são caducas, alternas simples em forma de lança com 10 a 25 cm de comprimento e frouxamente serradas (figura 1).


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Figura 1 – Folha de Castanea sativa Mill – Castanheiro Europeu

 

Na página superior possuem cor verde brilhante e na inferior, verde pálido com pêlos. O ciclo vegetativo do castanheiro compreende quatro fenofases: abrolhamento, floração, frutificação e desfoliação. Em Portugal, na generalidade, o abrolhamento dá-se a partir de fim de Março, dependendo da região e da variedade, quando as temperaturas estão compreendidas entre os 15ºC e 18ºC, aparecendo as flores masculinas entre Maio e Junho e as femininas aproximadamente um mês depois. As flores masculinas são amarelas dispostas em cachos eretos, os amentilhos (figura 2).

 

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Figura 2 – Amentilhos de castanheiro

 

As flores femininas estão normalmente agrupadas em três no interior de uma cápsula espinhosa dando origem às três castanhas do ouriço (figura 3).

 

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Figura 3 – Flores femininas de castanheiro.


Os frutos amadurecem nos meses de Outubro e Novembro (figura 4)

 

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Figura 4 – Ouriço de castanheiro

 

A árvore entra em repouso vegetativo entre Novembro e Março. O castanheiro é uma espécie monóica, a mesma árvore possui flores femininas e masculinas, mas é auto-estéril, isto é, a fecundação cruzada é indispensável, porque as flores femininas e masculinas da mesma árvore são incompatíveis.

A polinização dá-se através do vento e por insetos. No estabelecimento de um pomar é, portanto, muito importante ter em conta que as variedades polinizadoras tenham uma produção abundante de pólen e que seja geneticamente compatível com as flores femininas da variedade a polinizar, bem como a plena floração masculina corresponda ao período de recetividade das flores femininas. A floração masculina é relativamente curta: 5 a 8 dias em que o pólen se mantem viável, enquanto o período de recetividade das flores femininas dura 5 a 20 dias (Bergougnoux et al., 1978). O souto deve ter mais de duas variedades para assegurar uma boa cobertura polínica, uma vez que as variações climáticas podem fazer variar a evolução dos diferentes estádios florais. Uma boa polinização necessita também de temperaturas elevadas e de bom tempo, para que o transporte de pólen seja eficaz. São sobretudo as abelhas que asseguram a polinização, bem mais do que o vento.

Aos 8, 10 anos o castanheiro já produz fruto, no entanto, só depois dos 20 é que a frutificação passa a ser regular. Até aos 50-60 anos o crescimento é bastante rápido, diminuindo depois até ao fim da vida. Um castanheiro pode atingir 45 metros de altura e a sua copa pode chegar aos 30-40 metros de diâmetro (figura 5).

 

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Figura 5 – Castanheiro centenário na região de Viseu

 

Regimes de exploração e regeneração

O castanheiro é uma árvore lenhosa que pode atingir mais de um milhar de anos. Pode encontrar-se associada a certos carvalhais. É explorado para a produção de fruto (souto) e para a produção de madeira (castinçal) (figura 6).

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 Figura 6 – Souto centenário na região de Marvão (esquerda) e talhadia na Serra da Gardunha (direita)

 

Denomina-se bravo, o castanheiro para produção de madeira, proveniente de semente, e manso o que é utilizado para produção de fruto que é normalmente enxertado aos 2-4 anos.

O castanheiro bravo é cultivado em alto fuste ou talhadia, para a produção de madeira de grandes e pequenas dimensões. Para o alto fuste o compasso é normalmente de 4x2 metros. Fazem-se desbastes, ao fim de 2-5 anos, para seleção das melhores árvores e o corte final dá-se por volta dos 50-60 anos, quando o povoamento possui 170-200 árvores/hectare. Um povoamento em alto fuste é convertido em talhadia depois do corte final. Nas talhadias utilizam-se rotações de 15 anos (Costa, 2005).

No caso de um pomar, os compassos podem variar entre os 8 e os 12 metros, de forma a dar espaço suficiente para que as copas cresçam. Nos novos soutos, instalados com rega gota-a-gota, os compassos têm sido diminuídos para 6 e 7 metros, para uma exploração mais intensiva, e dessa forma aumentar o rendimento nos primeiros anos de produção. Quando as copas começam a competir poderá ser realizado um desbaste. Os tratamentos a efetuar depois da plantação são muito semelhantes a qualquer árvore de fruto. É necessário mobilizar o solo antes da plantação bem como fertiliza-lo. A enxertia é muito utilizada nas variedades de fruto e os porta-enxertos convém que sejam resistentes à tinta, provocada por um oomiceta do género Phytophthora que ataca as raízes. Os principais métodos utilizados para a propagação de castanheiros são por semente, enxertia e amontoa (figura 7).

 

amontoaFigura 7 – Amontoa de castanheiro.

 

As variedades de castanha Portuguesas

Em Portugal a Longal é uma das variedades mais antigas, que se encontra distribuída por todas as regiões de produção, sendo considerada a melhor variedade para a indústria. As variedades Judia e Martaínha, devido ao seu maior calibre, são normalmente preferidas para o mercado em fresco. Algumas variedades tais como a Longal, Amarelal e Verdeal encontram-se também no Norte de Espanha (Costa et al., 2008, Pereira- Lorenzo et al., 2011)

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Figura 8 – Variedades de castanha

 

 

Devido às crescentes exigências do mercado em produtos de qualidade e para a preservação e valorização do património genético nacional, foram criadas regiões demarcadas com denominação de origem protegida (DOPs):

Castanha da Terra Fria – inclui as variedades de castanheiro europeu Longal, Judia, Cota, Amarelal, Lamela, Aveleira, Boaventura, Trigueira, Martaínha e Negral. Mais de 70% da produção deve corresponder à variedade Longal, sendo os restantes 30% relativos à produção das outras variedades. Esta DOP é produzida em Trás-os-Montes, nos concelhos de Alfândega da Fé, Bragança, Chaves, Macedo de Cavaleiros, Mirandela, Valpaços, Vimioso e Vinhais, abrangendo uma área de cerca de 12.500 hectares;

Castanha da Padrela – a sua área geográfica está circunscrita a algumas freguesias dos concelhos de Chaves, Murça, Valpaços e Vila Pouca de Aguiar, correspondendo a cerca de 4.600 hectares. Inclui as variedades Judia, Lada, Negral, Cota e Preta; 

Castanhas dos Soutos da Lapa – Inclui as variedades Martaínha e Longal. A área de produção abrange algumas freguesias dos concelhos de Aguiar da Beira, Armamar, Lamego, Moimenta da Beira, Penedono, S. João da Pesqueira, Sernancelhe, Tabuaço, Tarouca e Trancoso englobando uma área de cerca de 4.000 hectares;

Castanhas de Marvão – Inclui as variedades Bária e Colarinha. A área geográfica restringe-se aos concelhos de Marvão, Castelo de Vide e Portalegre, ocupando cerca de 550 hectares.


Características nutricionais da castanha

A castanha apresenta algumas vantagens em relação a outros frutos secos:

  • é menos calórica (tem cerca de um terço das calorias dos outros), tem pouca gordura e é significativamente rica em vitamina C, que ajuda a fortalecer o sistema imunitário;
  • é rica em amido, é um alimento energético, é isenta em colesterol e tem baixo teor em gordura, ajuda a combater a arteriosclerose;
  • não tem glúten, é recomendada na dieta dos doentes celíacos;
  • tem baixa concentração de açúcares solúveis, tem efeito anti diabético;
  • tem baixo teor de Sódio, contribui para reduzir a pressão arterial;
  • é rica em vitamina C e cálcio, previne a osteoporose;
  • tem elevado teor de potássio e fósforo, ajuda a regular o batimento cardíaco;
  • é rica em ácido fólico, ajuda a reduzir o stress.

 

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